O desfecho das
investigações sobre o assassinato do jornalista e radialista Francisco Gomes de
Medeiros, 48, apontou que o crime foi encomendado por um grupo de quatro
pessoas, que teria feito uma espécie de “vaquinha” para arrecadar o valor de R$
8.000 e pagar um pistoleiro para realizar o assassinato. F. Gomes, como era
conhecido o jornalista na região do Seridó, foi morto a tiros no dia 18 de
outubro de 2010, na cidade de Caicó (a 282 km de Natal).
Segundo a polícia o motivo do crime seria porque os mandantes não gostavam do
lado atuante do jornalista, que fazia denúncias constantes contra pessoas que
praticavam crimes de diversas naturezas ou estavam envolvidas em
irregularidades, e eram publicadas em blog pessoal e veiculada em emissoras de
rádio.
Os detalhes da armação e negociação para matar o jornalista foram divulgados
pelo delegado geral do Estado, Fábio Rogério Silva, e pela delegada da Deicor
(Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado), Sheila Freitas, nesta
terça-feira (8).
A polícia informou que chegou ao grupo envolvido na morte de F. Gomes após a
prisão de João Francisco dos Santos, o “Dão”, que confessou ter atirado contra
o radialista. Dão era motorista do advogado Rivaldo Dantas de Farias, que
articulou o plano e arrecadou o dinheiro para pagar ao pistoleiro. Mas, o crime
foi encomendado por outras quatro pessoas.
Segundo a polícia, depois de outras investigações descobriu-se a participação
do comerciante Lailson Lopes (mandante do crime), do pastor da Primeira Igreja
Batista Gilson Neudo Soares do Amaral (que não gostava da atuação do jornalista
e usou R$ 1.000 do dízimo para ajudar no pagamento), do coronel Marcos Antonio
de Jesus Moreira (que forneceu cinco cheques para serem usados nas parcelas
pagas ao pistoleiro) e o policial militar Evandro Medeiros (que ajudou o
pistoleiro a se desfazer da arma e a fugir da cidade). Os seis envolvidos estão
presos.
“Gilson Neudo queria atingir a todos da rádio em que o radialista trabalhava.
Toda equipe da rádio tomava o café da manhã diariamente enviado por uma
padaria. Inicialmente, o plano era de envenenar bolos, pães e sucos e levá-los
para a emissora dizendo que os produtos tinham vindos da padaria”, disse a
delegada Sheila Freitas, reforçando que o plano foi descartado porque “o restante
do grupo discordou da ideia.”
O
pagamento
A polícia descobriu ainda que Dão receberia
os R$ 8.000 divididos em parcelas arcadas por Lailson, pastor Gilson e coronel
Moreira. “Inicialmente ele receberia R$ 3.000 para fugir, pagos pelo pastor, e
mais R$ 5.000, que seriam pagos pelo coronel Moreira e Lailson, e repassados
por Rivaldo.”
F. Gomes foi alvejado na calçada da casa dele no momento em que foi abordado
por Dão, que chegou em uma moto. O radialista foi socorrido para o Hospital
Regional de Mossoró, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. F. Gomes deixou
viúva e três filhos.
Denúncias
F. Gomes atuava em emissoras de rádio de
Caicó há mais de 20 anos, trabalhava em um jornal da região e também mantinha
um blog. Bastante atuante na região, o jornalista atuava fazendo denúncias de
irregularidades e devido as denúncias “ganhou” inimigos.
A polícia disse que devido às denúncias de F. Gomes ligadas “ao tráfico de
drogas e também por causa da amizade e admiração que a mulher do acusado
[Lailson] tinha com a vítima” motivaram o comerciante a mandar matar o
radialista. Lailson ainda foi ao velório de F. Gomes para despistar a polícia
da sua participação no crime.
A polícia relatou ainda que após a morte de F. Gomes, ocorreram diversas
ligações telefônicas entre Lailson, a partir das 18h, com os demais acusados.
Família
elogia elucidação
A família do jornalista postou uma nota no
blog dele, que ainda é mantido na internet mesmo depois do crime, agradecendo o
empenho da polícia, promotoria e comarca de Caicó para a elucidação do caso.
“Pessoas precisam de tão pouco para achar que têm o direito de tirar a vida de
alguém”, ressalta a nota, destacando que a elucidação do crime não vai trazer
de volta a vida de F. Gomes, mas que o empenho de todos os envolvidos a
investigação foi crucial.
A nota ainda faz um agradecimento “aos policiais do lado bom, que estão prontos
para fazer seu papel na sociedade, e não alguns que só vestem a farda e não a
honra”, afirmou, fazendo críticas a dois acusados de se envolverem no
assassinato de F. Gomes que são o soldado da PM Evandro Medeiros e o coronel
Marcos Antonio de Jesus Moreira.
“E jamais poderia esquecer o advogado que esse sim, pode-se dizer que é um
advogado de verdade, Janduí Fernandes, por representar e defender a família de
F. Gomes”, finalizou a família, criticando o envolvimento do advogado Rivaldo
Dantas no crime.
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