quinta-feira, 24 de maio de 2012

Em sua 72ª grande estiagem, Nordeste ainda luta por políticas de convivência com o sertão e vê erros históricos


Falar em seca no Nordeste não é novidade para o sertanejo. Em 512 anos de Brasil descoberto por portugueses, o semiárido nordestino chegou a 72ª grande estiagem, segundo relatos históricos da ASA (Articulação do Semiárido). O sofrimento do nordestino não é novidade, como denuncia o trânsito intenso de caminhões-pipa pelas estradas de terra da região. Mas nos últimos anos, a discussão sobre a redução dos impactos causados pelo fenômeno natural vem passando por uma mudança de conceito.
Em vez de falar em políticas de combate à seca, a ideia agora é desenvolver projetos de convivência com o clima do semiárido, o que é apontado como a solução para o drama sertanejo. “O objetivo deste questionamento não é substituir palavras, mas debater o conceito. É mostrar que o conceito de ‘combate à seca’ carrega consigo a ideia de dependência sem fim dos povos, de políticas emergenciais e compensatórias, que alimentam um ciclo de vícios e interesses entre o poder político e o poder econômico”, diz, em artigo, o coordenador-geral do Centro Sabiá, Alexandre Henrique Pires.
Diante da maior seca desde 1970, na última terça-feira (22) a ASA divulgou uma carta, em nome de mais de 750 associações e entidades do sertão nordestino, pedindo à presidente Dilma Rousseff, entre outras coisas, a suspensão da compra das cisternas de polietileno.


As cisternas são apontadas como a falha atual, mas são muitos --e mais graves-- os erros históricos apontados pelos sertanejos. O principal deles é a falta de obras estruturais, ao longo de décadas, como a construção de adutoras para abastecimento, açudes, cisternas e poços que garantam a captação e armazenamento da água durante as estiagens.
A oligarquia e os políticos dela oriundos e a ela [seca] ligados sempre explicaram este fenômeno como algo de responsabilidade da natureza, esquecendo-se, intencionalmente, das decisões políticas deles próprios e dos governantes. Creditam, assim, à natureza, aquilo que é responsabilidade e resultado das decisões políticas”, afirma a ASA na carta à presidente.


Em caráter emergencial, o governo federal anunciou medidas como pagamento do seguro Garantia Safra, o pagamento da Bolsa Estiagem (no valor de R$ 400 por família), a abertura de uma linha de crédito com juros reduzidos e crédito extraordinário de R$ 164 milhões para distribuição de água por meio de caminhões-pipa.



Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió

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